Se tivesse sido anunciada em outubro, a alta trimestral de 1% do PIB teria provocado euforia entre agentes econômicos e entre os políticos que apoiam o governo.
Significaria que o impeachment de Dilma recolocou a produção nos trilhos.
Mas como o mesmo resultado foi anunciado no primeiro dia de junho e se refere ao primeiro trimestre de 2017, as reações são visivelmente mais comedidas.
A começar pelas liberdades técnicas que Henrique Meirelles e Michel Temer tiveram a delicadeza de tomar.
"O país saiu da maior recessão do século", disse o ministro da Fazenda. "A recessão acabou, e é o resultado das medidas que estão sendo tomadas", disse pelo Twitter o presidente da República.
Não. A recessão não acabou. Para que isso aconteça, são necessários dois trimestres seguidos com crescimento positivo do PIB.
É a mesma regra que vale para o começo da recessão, que exige dois trimestres negativos. É o que lembrou a economista Mônica de Bolle, que jamais teve simpatias pelo governo anterior, em sua página do Facebook.
O foguetório também é contestado pelo economista Alexandre Schwartzman. "Pela composição dos números, é provável que no próximo trimestre o PIB volte a ser negativo", disse à rádio CBN.
A questão da composição é nevrálgica nessa discussão. O que cresceu não foi a indústria (apenas + 0,80%) e nem os serviços, com números estagnados.
O PIB cresceu graças à supersafra, com + 13,4%. Ótimo para o setor. Mas os investimentos e o consumo das famílias, que representa mais da metade da economia, continuam em queda.
É claro que a composição do resultado não é a ideal, mesmo porque, com o 1% como crédito político na conta corrente de Temer, a economia do país se recuperou de forma tão pífia que apenas vlltou ao patamar em que estava em 2010.
Entre as primeiras reações, a mais equilibrada feio do senador Álvaro Dias (PV-PR).
Ele disse que a iniciativa privada funciona segundo uma lógica que não depende das dificuldades profundas do governo.
Outro senador, Humberto Costa (PT-PE), um moderado dentro da esquerda, afirmou que o crescimento do PIB "não tira Michel Temer das cordas", numa analogia com a luta de boxe.
O CLIMA ESTÁ MUITO RUIM
A verdade é que Michel Temer precisaria de notícias bombasticamente melhores para reverter o ambiente negativo em que seu governo mergulhou em 17 de maio, quando foram divulgadas as gravações de Joesley Batista.
Joga-se no Planalto um xadrez em que é preciso preencher uma quantidade excessiva de posições para impedir o avanço da oposição e da Lava Jato.
Um exemplo. Torquato Jardim tomou posse na terça (31/05) no Ministério da Justiça. Foi escolhido por ter sido duas vezes ministro do Tribunal Superior Eleitoral, onde o presidente pode perder o mandato, em julgamento que começa no próximo dia 6.
Mas o antigo ocupante do Ministério, Osmar Serralho (PMDB-PR) não apenas rejeitou o convite para substituir Torquanto no Ministério da Transparência.
Ele também saiu atirando, ao qualificar a manobra que o defenestrou como inspirada por "trôpegos estrategistas".
A questão é que Serralho empurra para a suplência na bancada paranaense Rodrigo Rocha Loures,
Aquele que, em vídeo, recebe uma mala com R$ 500 mil supostamente destinados a Temer.
Ele precisa manter o foro privilegiado para não entrar em estado de delação premiada - o que seria exigência da mulher dele, grávida de oito meses.
O resultado é que Temer tenta agora atrair para um cargo do ministério qualquer deputado do PMDB do Paraná, para que Rocha Loures se mantenha com o nariz fora dágua na Câmara dos Deputados e não seja paraquedeado sobre a mesa do juiz Sérgio Moro.
Outra sequência de erros está na tentativa fracassada dos advogados de Temer de tentar impedir que ele seja interrogado (mesmo por escrito) pela Polícia Federal.
O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, determinou que o depoimento não seja adiado e indeferiu o pedido da defesa para que o presidente possa não responder perguntas sobre a conversa grampeada por Joesley Batista, que ainda passa por perícia técnica.
JULGAMENTO DA TERÇA NO TSE
A saída honrosa para Temer estaria na hipótese de ser afastado do Planalto pela Justiça Eleitoral. Mas ele diz reservadamente que, mesmo em sendo o caso, recorreria ao STF para não entregar a rapadura aos adversários ou aos hesitantes da base aliada, uma máscara que cabe direitinho sobre parte da bancada na Câmara do PSDB.
O resultado do julgamento, pedido em dezembro de 2014 pelos tucanos, permanece uma incógnita. Ainda mais depois da advertência do ministro Gilmar Mendes, presidente do TSE, para quem aquela Corte não existe para resolver problemas políticos.
Uma pequena janela favorável a Temer foi aberta nesta quinta-feira (01/06) pela Folha de S. Paulo.
Segundo o jorna há um prognóstico de absolvição do atual presidente e de Dilma Rousseff, já que, ao núcleo original de indícios sobre abuso do poder econômico, a chapa presidencial PT-PMDB passou a ser acusada de outros crimes que ao longo do tempo a Lava Jato se encarregou de fornecer.
Enquanto isso, a dita base aliada do presidente dá provas de fraqueza no Congresso. Se é verdade que ela negociou para votar na próxima semana a reforma Trabalhista na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, também é verdade que ela deixou que passasse entre suas pernas o chute da oposição para aprovar, em comissão também do Senado, a proposta de emenda constitucional sobre as diretas-já.
A propósito: se o texto virar lei, pesquisa do Instituto Paraná, divulgada nesta quarta, quantifica uma suposição já bastante generalizada entre os políticos. Num segundo turno, se convocado agora, Lula enfrentaria o deputado Jair Bolsonaro. E Lula seria eleito para a Presidência da República.